Não foi
necessário sair de casa para ter bons exemplos de como o cordel influência na
vida de algumas pessoas: meu avô, hoje com 81 anos, já não tem
mais a mesma vivacidade de alguns anos, mas ainda assim tem gravado na
memória trechos e mais trechos de cordéis.
Sob influência
dele, os filhos também herdaram a paixão pelo cordel, porém ir para a escola não era
prioridade, vivendo no interior do estado de Alagoas dos
anos 60 a 80. O trabalho na roça e nas casas de farinha vinha em primeiro
lugar.
Para minha mãe,
por exemplo, só foi possível começar a frequentar a escola aos oito anos, daí
rapidamente aprendeu a ler e finalmente pode ela mesma ler as palavras que o
pai sempre recitava. Nos cordéis ela via realidades muito parecidas com a que
ela estava acostumada, como o patrão cruel e sua esposa igualmente ruim, o
cansativo trabalho na roça (A Princesa da Pedra Fina, Leandro Gomes de Barros),
o chão que ela tinha a sua frente era a mesma terra vermelha que era descrita
nos cordéis.
Porém a
realidade às vezes é cansativa demais então como fuga existiam aqueles cordéis que
eram tão distantes do que ela vivia que a faziam viajar com o navegador João
de Calais, por exemplo.
Sendo um
simples folhetim era mais fácil e rápido de ser lido, na pausa para o almoço na
roça ou em um cantinho na casa de farinha.
Não
satisfeitos em apenas ler os cordéis meu avô e alguns tios também os escrevia,
os assuntos tratado eram as desventuras do dia a dia e, em uma família com doze
irmãos, não faltavam historias para serem contadas. Infelizmente nada do que
eles produziram foi poupado pelo tempo.
Aqueles dias no
roçado ficaram no passado, mas os livros simples e rimados que serviam de fuga
outrora continuam mais do que presente na vida de todos eles.
Por Alessandra Nunes